O mar calmo e o bom marinheiro
Por Marcelo Visintainer Lopes
Instrutor de Vela – Escola de Vela Oceano
Qual a sua opinião em relação ao dito popular “mar calmo nunca fez bom marinheiro”?
Verdade ou exagero?
Mas afinal, o que é ser um bom marinheiro?
O bom marinheiro é um cara “safo”.
A minha tradução de safo é a pessoa que é desenrolada, confiante, experta, ligeira, eficaz, proativa e experiente.
Como um marinheiro poderá adquirir tantos adjetivos se não tiver experiências reais de tempo ruim?
Como poderá se tornar um velejador confiante sem nunca ter encarado uma dificuldade?
É por essas e por outras que eu sempre recomendo que você as pessoas procurem se aperfeiçoar em condições mais severas, velejando em locais com vento de verdade.
Veleiros pequenos velejam com qualquer brisa e o mais importante para aprender a velejar (o básico) é que a gente tenha respostas do leme.
Se o seu objetivo é permanecer velejando por toda a vida no lago da barragem, ok.
Se você quiser ir além e realizar velejadas mais longas no mar, daí eu sugiro que você avance de fase.
O próximo nível é adquirir experiência técnica para controlar um veleiro em condições de ventos mais fortes e de mar aberto.
Búzios, Ilhabela e Florianópolis são bons exemplos de locais onde esta experiência poderá ser adquirida.
Nas primeiras velejadas com onda e vento de verdade você vai sentir alguma dificuldade em manter o barco sob controle, mas com o passar das horas os controles vão melhorando.
O veleiro possui diversos recursos e regulagens para condições severas, mas se você não aprender a utilizá-los será a mesma coisa que comprar o último modelo de aparelho celular e só usar o Whatsapp.
Utilizar recursos com sabedoria significa menos quebras e consequentemente menos custos variáveis.
As quebras normalmente ocorrem por erro humano, seja por falta de manutenção preventiva ou pela má gestão dos esforços.
Veleiros gostam de ser bem tratados e nem todos foram construídos para levar porrada o tempo inteiro.
É por sito que digo que tão importante como aprender o que fazer é aprender “o que não fazer”.
Devemos entender como a máquina funciona e para quais condições ela foi concebida.
Devemos aprender a fazer a coisa certa na hora certa e não a coisa errada na hora errada.
Esta frase se aplica integralmente ao ambiente do veleiro e todas as nossas ações devem ser direcionadas a cumprir este objetivo.
Devemos antecipar as estratégias em relação à meteorologia que está por vir, pois além de evitar incidentes com material e tripulação, estaremos poupando a energia vital do barco.
A estrutura do veleiro (aquilo que não podemos enxergar) sofrerá menos danos mecânicos se conseguirmos determinar o equipamento ideal e a melhor forma de timonear.
Uma inocente arribada de poucos graus na condição errada de vento e mar produzirá diversos efeitos de fadiga no casco, leme, mastreação, velas e até na sua tripulação.
Adquirir conhecimento suficiente para enfrentar situações duras não é uma opção do comandante e sim uma obrigação.
“Navegar é uma atividade que não convém aos impostores. Em muitas profissões, podemos iludir os outros e blefar com toda a impunidade. Em um barco, sabe-se ou não. Azar daqueles que querem se enganar. O oceano não tem piedade.
Eric Tabarly