Por Marcelo Visintainer Lopes
Tenho escrito diversos artigos dando dicas importantes de como comprar um veleiro, mas este texto em forma de tópicos é diferente e especial.
Procurei os pontos de maior complexidade…
Se você está em busca de um veleiro eu posso garantir que este passo a passo irá abrir a sua mente para detalhes que talvez ainda não tenham passado pela sua cabeça.
Boa leitura!
1.Definição do motivo da compra.
Antes de iniciar a busca por um veleiro usado você deve analisar muito bem os reais motivos que o levaram a pensar nisto.
A compra é uma necessidade, um desejo incontrolável, um sonho antigo, uma tendência que você não deseja perder ou apenas mais um daqueles impulsos?
A compra por impulso é uma das principais causas de existirem tantos barcos parados nas marinas.
2. Tempo disponível para o veleiro.
Sugiro que você crie uma lista (por ordem de importância e frequência de prática) com suas atividades corriqueiras e tente encaixar o veleiro dentro dela.
Casa de praia, sítio, moto de estrada, motorhome e o inadiável churrasco de domingo são alguns deles…
Em qual posição o veleiro ficaria?
3. Experiências anteriores e adaptação.
Velejar poderá se tornar a atividade mais incrível, fascinante e desafiadora da sua vida, mas é importante que você conheça todas as rotinas antes de cair pra dentro.
Se você tirar de letra o trabalho do dia a dia a bordo, ok!
Em relação à adaptação, me refiro a descobrir como você e seu corpo reagem ao confinamento e aos movimentos do barco navegando nas ondas.
4. Conheça todos os custos envolvidos.
Pesquise todos os custos fixos previstos para o tamanho do veleiro que você pretende adquirir (marina, revisões de motor, limpeza, pintura de fundo, polimentos etc.).
Não esqueça das despesas variáveis (conserto de velas, quebras de motor, substituição de peças, troca de baterias, capotaria etc.).
5. Estudo prévio de marcas e modelos.
Descubra tudo o que puder sobre as melhores marcas e modelos.
Procure saber tudo sobre os barcos mais consagrados do Brasil e que foram produzidos em série.
Pesquise também quais são os barcos que possuem histórico problemático.
Pergunte a um vendedor da sua confiança quais os modelos que possuem maior liquidez dentro da sua faixa de investimento.
6. Onde guardar?
A pesquisa sobre os locais de guarda deve correr em paralelo às pesquisas por barco.
Nem todas as marinas possuem vagas disponíveis.
Além de conhecer a disponibilidade de vagas é importante que você conheça os horários de atendimento, a estrutura e, principalmente, o calado máximo disponível na região.
Muitas vezes existe um bom calado dentro da marina, mas no entorno não.
7. Início da busca através dos links de anúncios.
Perceba se as fotos mostram detalhes ou se são fotos de barco inteiro ou desfocadas.
Fotos assim podem esconder muitos defeitos.
Se você acha que vale a pena investigar, peça ao vendedor fotos mais detalhadas e com resoluções mais altas que permitam aproximar sem destorcer a imagem.
8.Primeiras visitas.
A visita inicial tem como objetivo principal uma análise estética geral.
Você será capaz de avaliar o todo mesmo não entendendo nada sobre veleiros.
O que estiver feio irá saltar aos olhos, mas use estes itens para guiar melhor a visita:
Lá fora – capotaria (bimini, doghouse e lazyjack), estado do gel do convés (desgaste, amolecimento ao caminhar firme, pés de galinha, rachaduras, quebrados e consertos visíveis), esticadores com marcas visíveis de ferrugem, cabos de aço do estaiamento, cabos de trabalho (escotas e adriças), todo o inox do guarda mancebo, paióis do cockpit e também o paiol da amarra (onde fica o cabo da âncora).
Lá dentro – marcas de infiltração (madeiras esbranquiçadas e escurecimentos da madeira), estado do verniz, odores de umidade e outros, estado geral da cozinha, dos camarotes e do banheiro, interior dos armários, forrações, compartimento do motor e o motor como um todo (conservação visual).
Ao abrir o painel dos disjuntores repare se os fios estão organizados ou se estão soltos e desorganizados.
Mesma coisa dentro do compartimento do motor em relação aos fios soltos e aquela bagunça…
Peça para abrir o lazyjack e puxe uma amostra de tecido da vela para fora.
O tecido tá bem branquinho e quebradiço ou tá mais amarelado e perdeu o quebradiço?
Se o vento estiver fraco peça para abrir a genoa e verifique a brancura da vela, o volume de estrias (marcas verticais do tipo “rachaduras”) na parte da valuma, junto à proteção de tecido acrílico e também o estado desta proteção. Ao abrir e fechar a genoa também teremos uma noção do funcionamento do enrolador.
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9.Estabelecer parâmetros.
É bom lembrar que a visitação de análise estética não possui o objetivo de compra e sim de estabelecer modelos de comparação.
A gente começa a criar parâmetros entre os barcos visitados e os modelos de comparação nos ajudam a definir qual veleiro será avaliado pelo profissional avaliador.
10.Organizar planilhas.
Crie uma planilha para entrar com as informações das avaliações.
Ela ajudará você a não se perder na hora de realizar as comparações.
11. Emoção com os eletrônicos.
Não se emocione com os eletrônicos a bordo, já que eles não possuem relevância na avaliação estética.
Apenas anote-os na planilha com marca, modelo e, de preferência, o ano da compra.
12. Emoção com raridades.
Tente não se apaixonar por “invenções” ou por barcos únicos que não foram concebidos em linhas de produção.
Deixe este tipo de barco para quem gosta de raridades!
Eles demandam muito tempo e $$$$ com manutenções obrigatórias.
13. Velejar ou não velejar durante a visita estética?
Você está ali para avaliar o estado de conservação do barco e não para passear.
A emoção da velejada, com o vento batendo no rosto fará você perder o foco e trará uma mistura de sentimentos.
Coisas importantes serão deixadas de lado!
14. Documentação.
Assunto para despachante naval e advogado.
Despachante cuida da transferência e o advogado cuida das garantias.
Nunca faça uma transferência de propriedade sozinho.
Ir no cartório assinar o documento é fácil e transferir o dinheiro também…
O problema poderá chegar depois.
Bons ventos sempre!
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